Transtorno de Ansiedade Generalizada: o problema do "E se"
Por Carla Giglio
Uma grande verdade é que a nossa vida está bem longe de ser
uma constante, um gráfico de linhas retas, onde não existem variáveis. Parece
um pouco matemático pensar assim, não é mesmo?! Muitos de nós, quando fazemos
nossos planejamentos, podemos acabar em um raciocínio lógico/matemático demais,
que implica em acreditar que qualquer ponto que não se encaixe nessa reta, deva
virar uma preocupação a ser bem pensada.
Ora, mas uma preocupação sugere um problema...um problema
deve ser solucionado!
Correto. Concordo com você que se existe um problema,
devemos buscar a solução dele, mas será que toda preocupação é um problema a
ser resolvido?
Saiba você que preocupar-se é algo que faz parte de nossas
vidas, inclusive 38% das pessoas se preocupam todos os dias, e sem contar que uma parcela dessas pessoas se
consideram preocupados crônicos. E se o negócio é crônico, é bom se preocupar!
A partir do momento em que os seus dias são marcados por
ansiedade demais, preocupação com diversas coisas, tentativas frustradas de
controlar as preocupações, irritabilidade, tensão muscular, cansaço e
inquietação que acabam por te atrapalhar mais do que ajudar no dia a dia, pode
ser que isso tenha virado um problema e que esteja fugindo ao seu controle,
então seria um bom momento pra parar a avaliar: consigo administrar isso ou
preciso de ajuda?
É curioso como a coisa vai acontecendo tão naturalmente, que
quando eu pergunto às pessoas desde quando elas se preocupam tanto, elas têm
dificuldade em precisar e o que ouço muitas vezes é o “Não sei, me preocupo
desde sempre, nem sabia que isso era um problema”.
O problema tem nome, e chama-se:
O Transtorno de Ansiedade Generalizada ou TAG é bem
demarcado por essa “necessidade” de estar preocupado, porque na cabeça da
pessoa, pensar, pensar e pensar sobre um determinado assunto pode dar certas
garantias, como considerar alternativas inimagináveis caso o problema vire um
outro problema. Mas aí, em uma cabeça muito pensante, o problema sempre vai
trazer outro problema, que vai acabar virando um problema.
Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh! Que confusão! Quanta repetição!!
Cansativo isso, não é mesmo?? Mas é assim que funciona, como
uma bola de neve bem pequena, que se deixar, vai passar por cima de você.
No fundo, você só quer acreditar que deveria imaginar possibilidades diante de algo que é desconhecido
pra você e precisa ser solucionado. Mas infelizmente, nem tudo está no seu
controle. Calma! Respira! Relaxa! Use os seus pensamentos de maneira o mais
realista o possível pra poder discriminar o que está e o que não está ao seu
alcance.
Se tiver algo que possa ser feito sobre o problema em
questão, então ÓTIMO! Parta pra ação, sem medo de ser feliz. Agora, se não há o
que ser feito, simplesmente porque foge ao seu controle e não depende só de
você, então PACIÊNCIA!
Ter essa tal dessa paciência não é sinal de fraqueza,
incompetência, desvalia, mas de que você fez o que podia ser feito, de que você
não é perfeito e nem nunca vai ser. Perfeição é um conceito muito rígido, muito
duro, e na vida, que não é um gráfico com uma constante, é muito mais
inteligente ser maleável, ser flexível...isso torna tudo menos sofrível.
Aceitar que você não é perfeito, é aceitar que o dia a dia é
recheado de incertezas, que o dia de amanhã é um novo dia e no que depender
de você, pode ser muito bom. Tá bem, estou imaginando aqui que você deve estar
pensando que na teoria está lindo, mas olha, eu estou falando de
responsabilidade, ou seja, assumir o que é seu. Mas como, se não sei o que vai
me acontecer amanhã?
Nem sempre as coisas serão da forma ideal que gostaríamos,
mas uma vez que elas cheguem até você, não se culpar e entrar na cadeia de “e se” pode ser uma boa estratégia - “E se eu tivesse pensado sobre isso
antes?”, “E se eu já tivesse imaginado
outras soluções?”, “E se eu não
encontrar a solução?”, “E se eu
pensar mais e mais e mais, talvez encontre uma resposta...”.
Aí vem aquela pessoa de fora e te diz pra para de se
preocupar. OK! É simples assim, né!
Não, não...eu quero que você se preocupe, porque é a
preocupação que nos move, que nos faz querer com que sejamos melhores, que nos
motiva. Preocupar-se com eficiência é saber separar o que vale e o que não vale
a pena pensar a respeito, é ACEITAR a ansiedade que está junto,
bem do ladinho. Portanto, sinta ela chegar, sinta ela aumentar, sinta ela
diminuir e sinta ela ir embora, pois garanto que vai embora. Não existe essa de
comandar a ansiedade, mas sim manejar.
Tem um autor de quem gosto muito e que vem estudando há um
tempinho sobre ansiedade e depressão, o nome dele é Robert Leahy, e segundo
ele, 83% das previsões não se concretizam. Portanto, não há nem o que pensar,
faça o que tem que ser feito, conviva com o desconforto que a ansiedade te
causa, aceite que você não pode ter certeza de tudo, e o que você puder fazer,
faça o seu melhor.
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